MICHEL FOUCAULT E NOBERT ELIAS: DIÁLOGO ENTRE PODER DISCIPLINAR E AUTOCONTROLE IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO
Ângela da Silva
Santos
Universidade
Estadual da Paraíba- UEPB
RESUMO
Neste
artigo pretende-se fazer uma breve análise sobre a teoria do poder disciplinar segundo Michel
Foucault e a teoria do autocontrole na percepção de Norbert
Elias, promovendo um diálogo, buscando analogias conceituais entre os
autores. O objetivo do texto é
compreender o que o pensamento de Elias e Foucault, pode proporcionar à escola.
Palavras-Chave:
Foucault. Elias. Poder Disciplinar. Autocontrole. Diálogo. Escola.
INTRODUÇÃO
Partindo
da breve observação das concepções de Foucault e Elias, respectivamente, o
presente artigo buscará as semelhanças sobre as teorias citadas, visando seus
principais conceitos. No intuito de realizar um diálogo entre estes autores, à
priori será abordada a concepção de poder para tentarmos compreendê-la melhor, num
segundo momento iremos apresentar algumas ideias acerca do autocontrole na
percepção de Elias.
Poder e dominação são desempenhados nas mais variadas rumos numa ação
cotidiana, Michel Foucault descria que estes sejam originários de um Estado, ou
de uma única fonte. Sendo que, o poder não será necessariamente opressivo, ele
pode estar a benefício da criação, por exemplo. Foucault criou o conceito de
podo- saber, ou poder- conhecimento para explicar como há em várias
instituições, em que não se pode falar do conhecimento como causa ou efeito de
outros fenômenos, uma teia de interação complexa
Foucault descria que a dominação e o poder sejam originários de uma
única fonte, mas que são desempenhados em várias direções, cotidianamente, em
escala múltipla. Esse exercício não será necessariamente opressor, podendo
estar a serviço, por exemplo, da criação. Foucault observava na dinâmica entre
diversas instituições e ideias uma teia complexa, em que não se pode falar do
conhecimento como causa ou efeito de outros fenômenos. Para dar conta dessa
complexidade, o pensador criou o conceito de poder- saber ou poder-
conhecimento. Segundo ele, não há relação de poder que não seja acompanhada da
criação de saber e vice-versa.
FOUCAULT E O PODER DISCIPLINAR
O
poder não estar num lugar, num individuo ou em uma instituição, o poder estar
em tudo, permeia toda a sociedade. O poder não decorre
exclusivamente do sujeito, mas de uma teia de relações de poder que formam o
sujeito, dentre outros elementos, tal como o discurso. O poder é desenvolvido
como uma rede, não nasce por si só, mas de relações sociais. O poder é
a prática.
A disciplina é uma tecnologia do poder, uma forma de
executar poder. O poder disciplinar é algo individualizante, porque se exerce
sobre o corpo de cada individuo. Sendo que, disciplinar um indivíduo é
construí-lo como indivíduo pela ação do poder sobre o corpo do individuo. A
disciplina tem um caráter extremamente interessante, ela é algo que vem de fora
do indivíduo, mas que o internaliza. Para que aconteça o
poder disciplinar é preciso agir sobre cada um dos corpos, então se faz necessário
confinar estes corpos nas instituições para serem disciplinados, a escola é uma
destas instituições de disciplinamento.
Numa sociedade marcada por divisões de classe,
gênero, raça, idade, entre outras dimensões cabe à disciplina agir sobre os
corpos com o objetivo de produzir indivíduos dóceis e flexíveis
e obedientes a determinados sistemas, simultaneamente estes devem oferecer uma
mão-de-obra de qualidade que coopere no desenvolvimento econômico da sociedade.
A disciplina tem seu aspecto político ao produzir indivíduos submissos ao poder
do Estado, garantindo a estabilização e a ordem, ou seja, o que convém ao
sistema industrial capitalista. Foucault nos mostra que o corpo
passa a ser considerado um objeto possível do controle disciplinar. O poder e a
disciplina sobre o corpo permitem o funcionamento de instituições e grupos
sociais.
É de grande importância ressaltar outro aspecto importante da teoria de
Foucault, o poder como algo muitas vezes positivo, essencial a natureza humana,
manifestado em pequenas coisas, como namorar, comer, etc.
O AUTOCONTROLE EM ELIAS
Segundo
Elias as formações sociais passaram num determinado período histórico por
mudanças que resultaram num processo de autocontrole esse autocontrole
representou uma importante mudança de caráter individual, acontece uma passagem
de compulsão externa para compulsão interna.
O
autocontrole confere a contenção externa do indivíduo sendo pouco a pouco
reproduzidos internamente, na consciência, fazendo com que os comportamentos
indesejáveis aos padrões da sociedade sejam eliminados aos poucos.
Segundo
Elias, o processo de desenvolvimento do autocontrole nos indivíduos acompanha
as transformações ocorridas no desenvolvimento das sociedades. Um dos motivos,
por ele apontado, para o aumento do nível de autocontrole foi à pressão da
competição pelas diversas funções sociais [...] Para Elias, o autocontrole
passou a fazer parte da personalidade do indivíduo na medida em que ‘o controle
mais complexo e estável da conduta passou a ser cada vez mais instalada no
indivíduo desde os primeiros anos, como uma espécie de automatismo, uma auto
compulsão à qual ele não poderia resistir, mesmo que desejasse (BRANDÃO, 2000,
p.135 apud BARBOSA, p. 8).
PODER DISCIPLINAR E AUTOCONTROLE:
EFEITOS PARA A EDUCAÇÃO.
A
partir das definições de autocontrole e poder disciplinar pode-se inter-relacionar
as mesmas, buscando compreendê-las e interiorizá-las para a educação.
O
poder disciplinar [...] se exerce tornando-se invisível: em compensação impõem
aos que submete um princípio de visibilidade obrigatória. Na disciplina, são os
súditos que têm que serem vistos. Sua iluminação assegura a garra do poder que
se exerce sobre eles. É o fato de ser visto sem cessar de sempre poder ser
visto, que mantém sujeitado o indivíduo disciplinar (FOUCAULT 1977b, p.167 apud
SILVA, 1994, P.12).
Elias
procura os princípios da ordem dentro do mundo. Foucault preocupa-se com isto
também (embora a sua análise seja diferente), mas ele é igualmente, talvez
mais, interessado no caos criativo que fica, na sua visão, mais além, atrás de
ou em algum lugar profundo dentro do mundo das práticas opressivas do
discursivo, isto o leva a áreas e suposições que Elias rejeitou (SHMITH, 2001,
p.98 apud TAVARES, 2012, p.3).
Elias
e o Foucault problematizam produção e a auto-produção da subjetividade humana.
Pensando
a educação percebesse que o trabalho de Foucault e Elias abre uma visão para
compreensão da formação do indivíduo e suas implicações em relação às
apropriações dos objetos da cultura, como os modos de ler e as relações com os
livros. Estudar o poder na escola, o que se faz nas práticas pelas quais o
poder que se faz sentido no âmbito escolar, é algo que tem tudo a ver com
Foucault.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim
como para Elias, Foucault pensa poder como produção de determinados tipos de
saberes, cujos detentores estabelecem regras e condutas determinadoras de leis
e valores, excluindo aqueles que deles não partilhem, é a partir desta
“racionalidade” social que se garantem os modos de agir, pensar e se dar o
conhecimento considerado unânime aos indivíduos que o reproduz como algo
“normal” sem ao menos contestar-se sobre, é algo tão implícito que chega a
tornar-se um hábito. A escola torna-se um modelador de indivíduos no momento em
que está para formar cidadãos “adequados” para viver em sociedade.
REFERÊNCIAS
SILVA,
Tomaz Tadeu da. O sujeito da educação:
estudos foucaultianos. (org). Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
SIQUEIRA,
Teresa Cristina Barbo. et al. Corpo,
poder e educação. In :IV SIMPÓSIO TRABALHO E EDUCAÇÃO, 2007, p. 01-15.
BARBOSA,
Sergio Ribeiro. et al. A psicogênese nas obras de Norbert Elias e a sua relação
com a educação no processo civilizatório.In:IX SIMPÓSIO INTERNACIONAL PROCESSO
CIVILIZADOR. Ponta Grossa, Paraná, Brasil.
Comentários
Postar um comentário